A constatação de que o atual modelo econômico incentiva o consumismo, a exclusão e traz graves conseqüências também ao meio ambiente, com ameaças à vida no planeta, sintetiza os discursos feitos na sessão especial sobre a Campanha da Fraternidade, na Assembleia Legislativa, quinta-feira (11). Durante a audiência requerida pela deputada Helena Barros Heluy (PT), chamaram atenção duas propostas do missionário comboniano padre Cláudio Bombieri.
A primeira é que o Poder Legislativo promova ações que favoreçam e fortaleçam a agricultura familiar e a outra é para que exija, junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Secretaria de Saúde, o monitoramento dos impactos causados pelos poluentes lançados no Maranhão pelos projetos industriais com riscos à saúde humana, especialmente das comunidades próximas a essas áreas.
Ao referir-se ao tema “Economia e Vida” e o lema “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” e sua proposta de reflexão sobre o consumismo e o acúmulo de bens materiais, o arcebispo Dom José Belizário citou Jesus, dizendo: “de nada adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua vida.
ECUMENISMO E PRÁTICA
A 46ª Campanha da Fraternidade promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é a terceira de caráter ecumênico, em conjunto com o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC). Padre Flávio Lazarini, secretário da CNBB/NE-5, disse que “somos chamados a ser ecumênicos para compensar o escândalo da divisão da igreja de Jesus Cristo”.
O reverendo da Igreja Anglicana, Fabiano Caldas, salientou que, por ser ecumênica, a Campanha da Fraternidade torna-se ainda mais evidente, mas lembrou que ecumenismo é mais que o bom relacionamento entre as igrejas cristãs. Explicou que a origem do termo ecumênico significa “casa de todos” e, por conseqüência, quer dizer que as maravilhas existentes no planeta foram criadas por Deus para todos, mas, por seu lado, a economia, que deveria gerenciar de forma justa aquilo que é de todos, transformou-se em algo perverso, trazendo, como conseqüência a exclusão e a lógica do acúmulo de riquezas. Disse que isso torna ainda mais grave no meio cristão e citou Jesus, quando disse: “guardai-vos de toda ganância”. O lucro e a ambição por riqueza, segundo ele, criaram a exclusão e um quadro de destruição sistêmica.
“A Campanha nos conclama a denunciar, mas não só falar; temos que revitalizar a dimensão samaritana do mundo. Cristo está em cada um dos irmãos excluídos e nos conclama a estender a mão para eles”, orientou Fabiano Caldas.
A pastora Francieli Sandler, da Igreja de Confissão Luterana do Brasil, enveredou pelo tom pastoral e questionou aos presentes: “qual espaço estamos dando para Deus em meio ao poder que o dinheiro dá?”. Para ela, o dinheiro tem sido colocado como um deus na vida de muitos.
Para a deputada Helena, o modelo econômico é perverso e brutal, mas precisa ser enfrentado com mecanismos capazes de transformá-lo. Helena afirmou que o debate sobre a Campanha da Fraternidade é um momento para os parlamentares se posicionarem como agentes políticos e convidou-os a buscar juntos um rumo para o agir parlamentar e à reflexão sobre o consumismo irresponsável.
“Vamos trabalhar a economia solidária, participar do Fórum da Economia Solidária, pressionar o poder público para trazer essa experiência para os municípios e aprovar uma lei da economia solidária”, conclamou.
Ela presenteou os parlamentares com o texto-base da Campanha da Fraternidade. Participaram da sessão solene os deputados o presidente da Casa, Marcelo Tavares (PSB), Chico Gomes (DEM), Gardênia Gonçalves (PSDB), Edvaldo Holanda (PTC), Celso Santos (PTB) e os peemedebistas Ricardo Archer, Arnaldo Melo e Afonso Manoel, além de religiosos de várias denominações e do secretário de Trabalho e Economia Solidária, José Antônio Heluy.