Ex-primeira-dama é acusada de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa
Acusada de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa pela força-tarefa da Lava-Jato no Rio, a ex-primeira-dama do Rio de Janeiro Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador Sérgio Cabral, é alvo nesta terça-feira de um mandado de prisão expedido pela Justiça Federal. A prisão foi determinada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio. Também nesta terça-feira, Cabral, Adriana e mais 11 pessoas viraram réus na Lava-Jato.
O cumprimento do mandado de prisão de Adriana acontece 19 dias após a do marido Sérgio Cabral, apontado como líder do grupo que desviou ao menos R$ 224 milhões em obras com diversas empreiteiras como a reforma do Maracanã e o Arco Metropolitano, em troca de aditivos em contratos públicos e incentivos fiscais.
Entre os principais motivos para que a Justiça Federal aceitasse um novo pedido de prisão contra a advogada pelo Ministério Público — dois anteriores já haviam sido negados — estão contratos do escritório Ancelmo Advogados com empresas que receberam durante a gestão Cabral benefícios fiscais do governo fluminense e a suspeita de que ela estaria dando prosseguimento às práticas de corrupção e lavagem de dinheiro uma vez que não teria entregue todas as joias compradas pelo casal aos investigadores.
“A requerida, advogada de grande prestígio no meio forense, não está sendo investigada pela prática de atos que ela teria cometido no exercício de função pública, e sim por participar de uma grande Organização Criminosa que, como apontam as investigações, teria se instalado na sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, a partir do então Governador do Estado Sérgio Cabral, seu marido”, diz trecho da decisão do magistrado (leia a íntegra).
O escritório de Adriana Ancelmo arrecadou, em contratos com 40 clientes nos últimos oito anos (2008-2015), conforme dados obtidos pelo GLOBO, R$ 78 milhões. Os investigadores suspeitam de uma conexão entre os bilionários benefícios fiscais concedidos pelo governo Cabral — cerca de R$ 140 bilhões em renúncia entre 2008 e 2013 — e estes contratos. Figuram na lista de clientes da ex-primeira-dama a Telemar, a CSN, a Light, a Reginaves, o Metrô, a Brasken e a Unimed, entre outras favorecidas pelos benefícios.
Um dia após a prisão de Cabral, o GLOBO revelou que dos dez maiores contratos do escritório Ancelmo Advogados, da mulher do ex-governador Sérgio Cabral, nos últimos oito anos (2008-2015), sete foram celebrados com empresas que receberam no mesmo período benefícios fiscais do governo fluminense. Dados obtidos pelo GLOBO, que teve acesso a todos os contratos assinados pelo escritório neste tempo, demonstram que R$ 27,33 milhões derivam dos sete contratos com empresas contempladas, que, juntas, receberam quase R$ 4 bi em isenções.
O esquema com empreiteiras bancou uma vida de luxo para Cabral, Adriana e outros envolvidos. O dinheiro de propina pagou viagens internacionais, idas a restaurantes sofisticados, uso de lanchas e helicópteros e compras de joias.
Uma das joias foi um anel avaliado em 800 mil reais que Adriana recebeu de presente durante uma viagem a Mônaco. O anel foi pago pelo empresário Fernando Cavendish, ex-dono da construtora Delta.
Cabral teria se utilizado também de um sistema de contabilidade paralelo da joalheria Antonio Bernardo.Segundo uma gerente, o ex-governador comprou mais de 5 milhões de reais em joias por esse sistema. Na joalheira H.Stern, Cabral teria comprado joias no valor de 2 milhões de reais. As compras eram feitas em dinheiro vivo, sem a emissão de notas fiscais.
