Presidente também criticou a vacina contra Covid-19 e negou que a destruição da Amazônia está no ritmo alertado por cientistas.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que quer repetir no Brasil a legislação sobre armas adotada pelos Estados Unidos. Segundo Bolsonaro, caso seja reeleito, ele espera conseguir apoio no Congresso Nacional para mudar a política sobre armas no país.
Bolsonaro deu a declaração em entrevista exibida na noite desta quinta-feira (30) pela Fox News, emissora de TV por assinatura norte-americana. O presidente brasileiro foi entrevistado pelo programa “Tucker Carlson Tonight”, apresentado por Tucker Carlson, que é exibido no horário nobre do canal.
O apresentador entrevistou Bolsonaro na manhã desta quarta-feira (29) no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente em Brasília.
A legislação americana é mais permissiva que a brasileira em relação ao acesso a armas. No entanto, existe um movimento no país para mudar a situação. Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinou uma lei que determinou medidas que restringem o acesso às armas de fogo (veja mais abaixo).
“Se for reeleito, se tudo correr bem, teremos um apoio substancial no Congresso e poderemos aprovar leis sobre armas de fogo muito parecidas com as dos EUA”, disse o presidente na entrevista.
Questionado pelo apresentador sobre as razões que o levaram a mudar a legislação sobre armas no país, Bolsonaro disse que “não conseguiu mudar a lei brasileira”, mas que interpretou “da melhor forma possível a legislação existente”.
“Na verdade, não consegui mudar a lei brasileira. Mas por meio de um decreto presidencial e também por meio de portarias ministeriais, interpretamos da melhor forma possível a legislação existente. Houve um aumento substancial no número de pessoas que possuem armas de fogo de forma legal no Brasil”, disse Bolsonaro.
“Acreditamos que, uma vez que as pessoas estejam armadas, os bandidos, os ladrões pensarão duas vezes antes de invadir a propriedade de outras pessoas. Se, é claro, o número tivesse subido, eu seria culpado. Mas exatamente o oposto está acontecendo hoje”, completou o presidente.
Embora Bolsonaro tenha respondido em português, a fala do presidente foi ao ar traduzida para o inglês.
Outros temas da entrevista
Carlson também perguntou a Bolsonaro se a destruição da Amazônia registrada pelos números oficiais e veiculada pela imprensa é real.
O presidente brasileiro negou argumentando que dois terços do território do bioma amazônico estão preservados. No entanto, segundo o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia Legal teve 900 km² de área sob alerta de desmatamento em maio. O número é o segundo maior para o mês em seis anos – atrás apenas de 2021.
Apesar de admitir que crimes são cometidos na Amazônia legal, Bolsonaro declarou que as críticas à política ambiental de seu governo são resultado de um suposto interesse em retirar a soberania brasileira sobre o território de floresta.
“Não é possível cuidar de cada metro quadrado da região amazônica. Há desmatamento ilegal? Sim. Há focos de incêndio? Sim. Mas não no ritmo que é anunciado lá fora”, disse Bolsonaro.
O chefe do Executivo brasileiro também voltou a criticar a vacina contra Covid-19. Bolsonaro, que não se vacinou, disse que quem já foi infectado pelo vírus não precisa ser imunizado, oposto do que recomendam os cientistas. Segundo especialistas, a vacinação produz uma imunização mais duradoura do que a resultante de infecção natural pela doença.
“Uma preocupação mencionada pelos médicos é que uma pessoa que já tenha sido contaminada já está imune, e não precisa tomar vacina. E esse foi o meu caso. Agora, comprei vacina para todos os brasileiros. Eu não obriguei as pessoas a tomarem vacina, eu respeitei a liberdade individual, cada um era livre para vacinar ou não. E eu acredito que cerca de 20% da população decidiu não tomar a vacina”, disse Bolsonaro.
Tucker Carlson
Segundo o blog da jornalista Sandra Cohen, Tucker Carlson é uma das principais vozes do conservadorismo e da direita nos Estados Unidos e seu programa é o de maior audiência da TV a cabo americana.
Segundo o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, o norte-americano também está no país para gravar um documentário sobre o Brasil. Eduardo e o assessor para assuntos internacionais do presidente, Filipe Martins, também foram entrevistados.
Acesso a armas nos EUA
A nova lei aprovada na semana passada nos Estados Unidos restringe a compra de armas no país para pessoas entre 18 e 21 anos, com antecedentes criminais ou histórico de doença mental e violência doméstica. Anteriormente, qualquer pessoa com mais de 18 anos poderia comprar armas sem necessidade de qualquer verificação.
Em discurso gravado na Casa Branca, antes da aprovação da nova lei, Biden chegou a fazer um apelo para que o Legislativo adotasse as medidas que restringem o acesso às armas de fogo.
“Chega, chega. Pelo amor de Deus, quanta carnificina estamos dispostos a aceitar?”, disse Biden na ocasião.
Apenas no último mês, dois massacres com armas de fogo aconteceram no país: um atirador matou 19 estudantes e dois professores em uma escola na cidade de Uvalde, no Texas; e outro matou quatro pessoas em um centro médico em Oklahoma.
Na contramão da lei assinada por Biden, na semana passada a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que os americanos têm o direito fundamental de portar armas de fogo em público de forma não ostensiva. A decisão derruba uma lei de Nova York que exigia permissão para portar uma arma de fogo em público, ainda que guardada.
Fonte: G1