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CRÍTICO DIZ QUE JORNAL ERRA NA CAMPANHA CONTRA SARNEY

Carlos Eduardo Lins da Silva
Carlos Eduardo Lins da Silva

Como diminuir a lixação

 Por Carlos Eduardo Lins da Silva*

 NA QUINTA-FEIRA , o jornal noticiou que o Senado havia aprovado em última instância projeto de lei que altera regras para a adoção de crianças. A mais recente menção da Folha ao assunto havia ocorrido em 21 de agosto de 2008. É como se dez meses atrás tivesse anunciado que Roberto Carlos faria um show no Maracanã e só voltasse ao tema na segunda para descrever o espetáculo. Ou tivesse dito na quinta que o Cruzeiro perdera a final da Libertadores sem ter tratado do campeonato nos 300 dias anteriores. Poucos discordarão de que a Lei Nacional de Adoção é um assunto relevante. Como a lei da gorjeta, a reforma eleitoral, a regulamentação dos mototáxis, as mudanças no processo de divórcio, só para citar algumas leis a respeito das quais o Congresso tomou decisões vitais recentemente e que foram apresentadas ao leitor como fatos consumados. As atividades de trabalho do Legislativo (nos seus três níveis) são cobertas pobremente pela Folha. E não é por falta de gente nem de papel. Boa quantidade de árvores caiu para produzir a montanha de páginas usadas para os mil e um escândalos da Câmara e do Senado só neste ano. É claro que denunciar malfeitorias com dinheiro público é uma das principais funções do jornalismo. Mas o Legislativo produz mais do que crimes e fofocas, suas duas únicas criações que parecem mobilizar a reportagem deste jornal. Mesmo nessas áreas, seu desempenho é fraco. As malversações em geral só aparecem quando algum político interessado em prejudicar adversários as joga no colo de um repórter. Durante anos o Senado teve mais de uma centena de diretores, cujos nomes e funções constavam de catálogos públicos. Mas só agora se tratou deles, por exemplo. E a cobertura insiste em focar pessoas, não instituições. É mais fácil responsabilizar indivíduos do que explicar processos. Mas tal simplificação é perniciosa para a cidadania e para a sociedade. O jornal precisa produzir e editar mais material do tipo que gerou o livro recomendado ao final desta coluna e menos do que tem sido o padrão do seu jornalismo político: textos previsíveis, redundantes, cifrados, superficiais, aborrecidos, moralistas e frequentemente a serviço conscientemente ou não de políticos ou individualmente ou em grupos. Em entrevista que vai ao ar amanhã e está indicada abaixo, o jornalista Gay Talese diz que uma providência imediata para melhorar a qualidade do seu jornal, o “New York Times”, seria tirar de Washington a maioria dos jornalistas que compõem a sucursal na capital do país.Talvez nem seja preciso tanto aqui. Se os que estão em Brasília se dedicarem a informar o leitor sobre a tramitação de projetos de lei de importância, ajudando-o a engajar-se no debate público, o jornal será mais efetivo. Talvez então congressistas suspeitos deixem de se lixar para ele. * Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha de S. Paulo desde 24 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação

                                                        *  Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha de S. Paulo desde 24 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação

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